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Ana Ruth Fleury Curado

Colunista
Ana Ruth Fleury Curado

A Cultura e sua dualidade.

O Estado de Goiás surgiu da província de São Paulo e por volta do final de 1880 ganhou essa denominação de “Estado de Goiás”. origem do nome goias

“A colonização iniciou-se pela busca do ouro, e era um desafio  chegar a Goiás,   motivado  pela falta de transporte, sendo o principal caminho  por terra, á cavalo ou a pé,  já que os rios navegáveis eram poucos e mesmo assim, encachoeirados.  Nada se produzia aqui e tudo precisava vir da província de São Paulo.” 

Somente por volta de 1.727, fundou-se o arraial de Santa Ana, mais tarde Vila Boa de Goiás, que foi  sede do Governo  da Capitania de Goiás.

Bernardo Élis, em seu livro “Chegou o Governador”, narra no épico romance, a saga do primeiro governador da Província de Goiás com relato antológico sobre o modo de vida da população daquela província, já desmembrada da capitania de São Paulo, isso por volta do ano de 1750. 

Com o declínio do ouro, houve também o declínio da província, ficando quase que em dormente isolamento: sem comércio, sem estradas, sem perspectivas. Esse isolamento, contudo, permitiu que houvesse a preservação de um rico patrimônio cultural.

É nesse contexto, de influência dos colonizadores, isolamento, estagnação, diversidades de povos europeus, negros e mestiços e seus costumes, fazeres e saberes, arquitetura com ampla influência portuguesa que começou a formar o povo goiano. Esse é o patrimônio cultural do povo goiano.

A Declaração Universal sobre Diversidade Cultural (Unesco,2002) reafirma cultura como um conjunto dos traços distintivos espirituais e materiais, intelectuais e afetivos, que caracterizam uma sociedade ou um grupo social e que abrange, além das artes e das letras, os modos de vida, as maneiras de viver juntos, os sistemas de valores, as tradições e as crenças. 

No Brasil, o arcabouço legal da lei de proteção do patrimônio cultural iniciou-se em 1.937 com a edição do Decreto-Lei 25. O Decreto -Lei  3.551/2000, institui os Bens Culturais de natureza Imaterial como patrimônio cultural brasileiro.

A Unesco ainda na mesma Declaração Universal sobre a diversidade Cultural, proclama os seguintes princípios: 

-Diversidade Cultural se manifesta na pluralidade de identidades que caracterizam o grupo e sociedades e essas compõem a humanidade.

-A diversidade cultural amplia a possibilidade de desenvolvimento, entendido não somente em termos econômicos, mas também como meio de acesso à existência intelectual, afetiva, moral e espiritual.

Em Goiás, o reconhecimento dos valores culturais permitiu a preservação de cidades coloniais, dentre elas, Corumbá de Goiás. Nesse contexto, Corumbá de Goiás busca resistir, valendo-se inclusive dos princípios proclamados pela UNESCO na Declaração Universal da Diversidade Cultural, 2002, e nas Leis de Proteção Brasileira.

Corumbá de Goiás é um importante centro histórico. Desde a sua arquitetura (influência da colonização portuguesa) às suas manifestações culturais que remetem ao passado da formação do povo goiano. O Centro Histórico de nossa cidade é uma paisagem de memória.O povo civilmente conhecido como corumbaense, é um povo voltado às práticas agrícolas, por isso, está também  muito ligado “aos fazeres” de um povo. Assim descreveu SAINT HILAIRE sobre Corumbá de Goiás: “[...] as mulheres fiam o algodão e recebem seus salários sobre a forma de mercadoria”. 

A dinâmica das cidades trouxe progresso, mas o patrimônio cultural cuidado, preservado e protegido propicia que as duas realidades sejam coincidentes, e que o contexto histórico, com seus  valores essenciais da  identidade cultural e as suas tradições sejam respeitados, a fim de serem transmitidos às gerações futuras “ como testemunho da experiência vivida”.

Assim, nessa dualidade, os cenários preservados são palcos para a vivências das festas culturais e religiosas. Um traço também da cultura do povo corumbaense, como as festas do Divino, festas da Padroeira, encenações da Semana Santa e encenação das Cavalhadas que resistente ao tempo, são portadores de identidade, valores e sentido, portanto, bens culturais em expressão imaterial, capaz de gerar, bens e serviços culturais, aptos a serem difundidos em políticas culturais para o desenvolvimento local.

Fruto de uma localização privilegiada, às margens do Rio Corumbá, um importante rio na construção ou formação da bacia do Rio do Prata, Corumbá de Goiás acende um alerta para a preservação deste rio, palco que foi para a colonização e sua riqueza de aluvião e hoje, palco que é para  o respeito ao meio ambiente com a revitalização de seu leito e nascente, com vistas a ser preservado para as gerações futuras. Na bateia do tempo, o ouro em destaque é um importante patrimônio histórico, e uma vez bem trabalhado, diversifica com a incipiente vocação turística. Contudo, se faz necessário que na busca pelo progresso, pela modernização, pelo desenvolvimento sustentável (seja ele também ambiental), é primordial que a sociedade através das políticas públicas, juntamente à sociedade civil organizada e ao setor privado estejam juntos no desafio da preservação e difusão dos elementos culturais. Ao pensar nos elementos que constituem a cultura (valores, crenças, saberes, identidade) pensamos também que a dinâmica da vida trás movimento que se inventa e reinventa. Devemos atentar que “preservar” permite incorporar novas tecnologias e linguagens sem nunca erradicar a identidade transmitida de geração a geração.

O Pertencimento da identidade de um grupo é a premissa de defesa de uma contraposta diversidade, pois cultura é, antes de tudo, uma ferramenta de transformação. Assim, reconhecer a dualidade da cultura é aceitar que ela é feita de contrastes. Entender que “tradição” e “inovação” não se anulam, mas se complementam. A dualidade cultural é essencial para o desenvolvimento humano, para construir uma sociedade mais rica, plural e consciente. Neste contexto, faremos uma Corumbá de Goiás mais plena em sua identidade cultural, que assim se resume:

Ouro trouxe povo.

A fé ergueu os arraiais.

Onde pisava um bandeirante também pisava um jesuíta.

Os arraiais surgiam sem planejamento, mas com alma.

Santa Ana. Nossa Senhora da Penha.

Fé que virou festa. Festa que virou patrimônio.

Folias, Congadas, Rezas de Presépio, Cavalhadas!

Cultura que une. Cultura que preserva.

Corumbá de Goiás, onde o passado é presente e o presente tem raízes.

Corumbá de Goiás é um oásis no barulho do mundo. Preservemos essa essência.!

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